Charlie Hebdo não satiriza apenas as religiões. O racismo também não escapa à sua “liberdade de expressão”, o que é justificado por eles como uma sátira aos acontecimentos (por exemplo, a ministra da justiça francesa Christiane Taubira foi retratada por eles como uma macaca devido a um xingamento de uma outra política contra ela). E o humorista e político militante Dieudonné está com uma banana introduzida no traseiro por ter feito apologia ao terrorismo.
Fazer humor não é para qualquer um. Não basta simplesmente fazer umas piadinhas verbais ou uns desenhinhos que objetivam deduções diretas ou indiretas do expectador, e esperar dele o riso do “ahá” entendi! Humor também é Ciência. O riso tem três vertentes. A primeira, é o riso por interação social ou por brincadeiras, este é o mais puro e genuíno, que praticamos a cada momento, desde crianças, quando estamos alegres e com as pessoas que amamos ou com quem nos sentimos bem. Este riso ativa nossas emoções positivas mais profundas. A segunda vertente é o riso pela piada, no qual é preciso utilizar as regiões do cérebro que processam a inteligência para compreendê-la. E a terceira vertente, é um tipo de riso que poucos consideram: o riso sarcástico. Enquanto o riso social e por piadas aproxima o grupo, o riso sarcástico afasta. O sarcasmo é um escárnio ou uma zombaria, e está ligado à ironia com um intuito mordaz quase cruel, muitas vezes ferindo a sensibilidade da pessoa que o recebe.
Talvez seja isso que a equipe da Charlie Hebdo (e todos aqueles que fazem parte de um grupo) deva considerar daqui para a frente: Como fazer rir sem agredir? Como fazer rir mantendo a ética e o respeito? Como fazer rir ativando em nossa mente nossos sentimentos mais genuinos de alegria e não os sentimentos de ódio, revolta e vingança?
O mundo não será menos engraçado quando compreendermos isso. Ele apenas será profundamente melhor.