Alguma vez você já pensou por que você não consegue fazer cócegas em você mesmo?
É porque as cócegas é um comportamento única e exclusivamente social. Cócegas é um tipo de brincadeira de lutar, na qual quem faz é o suposto agressor (por exemplo, o monstro, o predador, o inimigo de guerra que quer pegar sua vítima) e quem as recebe é o mais frágil (por exemplo, a presa, o refém). Por isso é sempre acompanhada do riso: para deixar claro que aquilo é só uma brincadeira. A criança se contorce ou se defende com os braços para tentar escapar daquilo. Esse é um comportamento muito importante para o desenvolvimento da criança para ensiná-la a se defender de ataques ou outras agressões, ou ensinar situações da vida como ganhar ou perder.
E por que não sentimos nada fazendo cócegas em nós mesmos? Este é mais um fenômeno intrigante deste comportamento. Para as cócegas serem efetivas, o cérebro não pode saber exatamente de onde elas vêm. Charles Darwin já tinha percebido essa característica sobre o tickling (cócegas, em inglês) ao afirmar: “For tickling to be effective, you must not know the precise point of stimulation”.
Mas se uma outra pessoa fizer, o local será desconhecido ou impreciso, e isso ativam regiões e vias neurais que levam essa sensação tátil específica ao cérebro. O cerebelo, que é uma estrutura cerebral que ajuda a controlar os movimentos, percebe que aqueles dedos tocando a barriga e o pescoço não são do seu dono, então avisa imediatamente a parte do cérebro responsável pela sensação tátil (cortex somatosensorial) que aqueles movimentos são oriundos de uma brincadeira. Então o cérebro sente este toque específico, e relaxa, começando a preparar a “poção do riso”, composta por uma química que provoca uma agradável sensação no corpo e na mente.
Crianças com visão normal riem principalmente quando têm a sensação tátil das cócegas. Crianças cegas, que nunca sabem de onde vêm as cócegas e sequer se elas virão, riem o tempo todo aguardando-as, mesmo sem sentí-las rsrs. No vídeo, brinco com uma criança cega na qual parece que estou fazendo cócegas nela. Entretanto, em uma análise mais detalhada, o observador poderá perceber que eu sequer toco na criança, e mesmo assim ela ri muito. Isso mostra o poder das cócegas e da brincadeira.
Portanto, riso e brincadeira é coisa séria. E as cócegas, que fazem parte de um importante tipo de brincadeira, não podem ser negligenciadas na infância. Este é um comportamento genuino e instintivo que ajuda a fortalecer a personalidade da criança e forma um importante elo, não só entre crianças e adultos, mas também entre marmanjos, por exemplo, entre casais que se divertem com brincadeiras de dominar ou assustar. É riso garantido…