
O curso de História da Neurociência que fiz na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, foi prático, inovador e memorável. As aulas, não eram o professor quem as ministrava, mas sim os alunos.Tínhamos que incorporar o sujeito da história e ainda colocar roupas da época e apresentar em um cenário, como em um teatro.
A minha apresentação deveria ser a de uma atriz grega representado expressões emocionais em uma peça no teatro da Grécia antiga.
Os estilos mais conhecidos do teatro grego antigo eram a tragédia e a comédia. Os atores invariavelmente usavam máscaras nas peças daquela época, o que nos leva a fazer um questionamento: como mostrar as expressões faciais humanas da tragédia e da comédia com máscara? Era esse o meu desafiador papel. Eu deveria entrar em cena com uma máscara e a ‘audiência’ (os outros alunos) tinham que me pedir para fazer expressões emocionais para tentarem adivinhar quais eram. Quando me pediram para fazer a expressão do medo, eu encolhi o meu corpo e agitei os braços desesperadamente. Então, quase que magicamente, a máscara, que tinha uma expressão neutra parecia agora ter a expressão de medo, expressão que os alunos acertaram prontamente, mesmo eu estando com a máscara. Da mesma forma foi com as outras expressões emocionais básicas, como alegria, tristeza, surpresa e arrependimento.
Naquele momento, todos nós, alunos, compreendíamos então a “mágica” das máscaras e porque elas eram tão utilizadas no teatro antigo. A máscara se transforma dependendo do ângulo e do contexto como nós a vemos. Como não se pode ver nenhuma expressão emocional facial ao se usar uma máscara, o cérebro dá pistas do movimento corporal que ele está vendo e atribui então à face uma expressão relacionada que faz sentido. O sistema cognitivo vê e sugere um movimento para a máscara, e isso cria uma emoção imaginária na própria máscara .Alguns cientistas cognitivos sugerem que o uso da máscara no teatro grego serviam para aguçar a atenção da audiência, bem como para eles terem uma participação viva e interativa dela, tentando resolver desafios e descobrir por eles próprios as emoções, mais do que mostrá-las explicitamente. Dessa forma o cérebro trabalha para encontrar significado em uma arte abstrata.
Talvez seja por isso que é tão difícil ‘esconder’ emoções no dia a dia. Podemos usar a ‘máscara invisível” do disfarce, por ex., fingir que estamos neutros quando na verdade estamos tristes ou aborrecidos. O rosto não mostra, mas o corpo mostra. Consequentemente, faz o cérebro do observador criar no rosto do observado a mesma expressão do corpo. É difícil enganar o cérebro…