A semana passada fui convidada para dar uma palestra em um congresso de Neurociências. Nestes casos, busco suporte para as coisas que vou falar, então recorro primeiramente ao meu “Baú da Ciência”, termo que uso para uma grande caixa onde guardo papers científicos, cadernos, blocos de anotações, vídeos, etc desde o início de minha carreira, que foi há mais de 20 anos.
O palestrante conduziu a palestra no sentido de mostrar que o perdão é um processo emocional e cognitivo que erradica a hostilidade, a ruminação e os efeitos adversos na saúde. O afeto negativo e estresse emocional crônico estimulam a produção de hormônios relacionados ao estresse, como o cortisol, que é um “veneno” para o corpo, principalmente para o coração, pois altera a reatividade cardiovascular, diminuem a qualidade do sono, promovem queda de cabelo, e está associado também com o desenvolvimento de condições clínicas como a depressão. Por outro lado, o perdão gera vários benefícios como bem estar, paz interior, saúde cardiovascular e até aumenta a longevidade, de acordo com estudos recentes (ref 2).
A parte do cérebro associada em resolver a raiva, é a mesma que envolve a empatia e a regulação das emoções. Pesquisas mostram que existe um fundamento neural para a idéia de que resolver conflitos é bom para o cérebro e resulta em estados emocionais positivos (ref 1).
É importante diferenciar “perdão” de “reconciliação”. Você pode perdoar alguém que o (a) feriu, mas não precisa reparar e recomeçar a relação com aquela pessoa. Pode ser até mais benéfico perdoar o ofensor e simultaneamente encerrar a relação, mas sem jamais perder o respeito e a gentileza por ele, um tratamento convencional social esperado por qualquer pessoa educada.
Hoje, através de modernos estudos com imagens cerebrais, já se pode hipotetizar que o perdão é capaz de inibir regiões do cérebro responsáveis por gerar reações agressivas ou de ressentimentos em resposta a ofensas pessoais. Este processo recruta áreas do cortex pré-frontal, conhecidas por modular o comportamento agressivo (ref 1).
Que bom saber que nosso cérebro é equipado com a neuroqímica da paz. Felizmente, a todo momento, nós, pessoas pacíficas, a usamos. Mas o grande desafio e sabedoria é saber usá-la nos momentos críticos. Ao contrário do que pensam os orgulhosos e rancorosos, o perdão não é uma fraqueza ou uma reconciliação não pretendida, mas um ato de grandeza para si mesmo e para o próximo que somente pessoas fortes e suficientemente amadurecidas estão aptas a praticar.
Referências:
1. How the brain heals emotional wounds: the functional neuroanatomy of forgiveness
http://
2. How Does the Brain Process Forgiveness?
http://