Parece que René Magritte estava errado ao achar que uma imagem é só uma imagem, ao escrever em sua famosa obra pintada em 1928, com os dizeres abaixo da figura de um cachimbo “Ceci n’est pas une pipe” (este não é um cachimbo). Magritte explicou que a imagem, por ela mesma, não é um cachimbo. É apenas a imagem de um cachimbo. Ele mesmo reforçou isso em entrevistas sobre a obra: “Tente colocar tabaco aqui. Você não vai conseguir”.
O que Magritte não considerou, é o que se lê na recente imagem do cartunista aí ao lado: “Esta não é uma arma. É uma ferramenta de expressão”.
Esta “ferramenta de expressão” que produz imagem e palavras, é o que transfere ao mundo aquilo que nos faz unicamente humanos: a linguagem. A linguagem falada, escrita ou desenhada é a mais poderosa expressão da emoção e da inteligência humana. É por meio dela que comunicamos aos outros os nossos pensamentos, sentimentos e experiências.
A transferência da linguagem de um indivíduo ativa no outro redes de símbolos daquilo que o outro experimentou em vida e armazenou em seu cérebro com um significado próprio. Simbolos neurais interpretados do ambiente que não significam nada para uns, são altamente significativos para outros, por ex. Deus, Infiel, Fantasma, Satanás, Barata.
O mundo externo molda o mundo interno do ser. E as representações neurais daquelas experiências ficam tão absolutamente e fortemente conectadas, coladas, que muito dificilmente se soltam e vão formar outras representações com novos significados.
Infelizmente, há mentes más ou doentias, que, ao longo de toda a humanidade, se autodeclararam líderes e usaram a representação da linguagem para implantar na mente do outro suas ideologias deturpadas, formando assim movimentos de massa ou mesmo culturas e civilizações que foram condicionados a pensar como o maluco. Foi o que aconteceu com Hitler ou Stalin, por exemplo. Stalin aplicou técnicas de linguagem para recondicionamento de soldados e até publicou isso em um paper em 1950. Ele demonstrou a significância da linguística para a doutrinação em massa. Por ex., a palavra “Traidor” era repetidamente acompanhada por fortes estímulos negativos. Isso passou a provocar automaticamente sentimentos e reações de ódio nos soldados. Opiniões prontas transferidas mecanicamente ao outro, sem dar oportunidade à oposição, alcançam as células nervosas e implantam um padrão fixo de pensamento no cérebro. Essa técnica é popularmente conhecida como lavagem cerebral – a desconstrução de significados das coisas representadas no cérebro e reconstrução daquelas mesmas coisas com significados diferentes por meio de condicionamento de recompensa ou punição.
A tragédia recente que o mundo assistiu indignado como consequência de publicações de charges desrespeitosas, humilhantes, intolerantes e também extremistas com a crença dos outros, nos alerta que devemos ter mais cuidado com as palavras e as imagens. Em muitas situações, deveríamos manifestar nossos sentimentos em um papel (ou uma tela) em branco que também pode representar muito: o silêncio e a paz.