Você olha para o seu corpo e se vê de uma forma;
O seu cérebro olha para o seu corpo e te “vê” de outra…
O cérebro analisa as sensações de cada área do corpo e decide em qual área cortical ele deve dedicar mais espaço para aquelas sensações. Para o corpo, há pouca necessidade em saber o que está ocorrendo, por exemplo, pelos braços e pernas: o que esses membros mais precisam é se moverem e se protegerem de estímulos danosos. Outras partes do corpo, entretanto, são muito mais sensíveis. Mãos, lábios, língua, genitais, e características faciais em geral fornecem uma grande quantidade de informações sensoriais. Por isso, essas áreas do corpo ocupam bastante espaço no cérebro na região relacionada aos sentidos.
Essa desproporção de quantidade de região cerebral sensorial (e motora também) devotada a cada área do corpo, está representada no cérebro na forma de diagramas que relacionam partes do corpo com alguma sensação.
Para fazer o diagrama, o neurocirurgião Wilder Penfield, nos anos 40, estimulava eletricamente partes do cérebro de pacientes durante cirurgias no cérebro, com o paciente acordado e informando em que parte do corpo ele tinha alguma sensação. Penfield, por meio dessa correlação, criou a fígura mítica de um homúnculo, um pequeno homem grotescamente desfigurado. Graças a essas descobertas, hoje é possível diagnosticar com mais facilidade a topografia de alterações cerebrais a partir do exame físico e neurológico do paciente. Entendemos melhor também porque algumas estimulações no corpo levam a sensações específicas como a dor, o toque do carinho a excitação sexual, etc. O pênis, por exemplo, ativa a região genital no córtex cerebral e causa sensações típicas. Um estudo recente demonstrou em mulheres o que a maioria de nós já sabia: o estímulo nos mamilos pode causar excitação sexual. O que não sabíamos é o porquê. É que os mamilos, além de ativar a região cortical do peito, também estimula a região genital no córtex, que é o local onde são geradas as sensações de excitação..
Os estímulos sensoriais do ambiente tocam o corpo e viajam até o “império dos sentidos” no cérebro fornecendo ao ser humano as mais incríveis sensações, desde as mais delicadas até as mais rudes.
Ref.: Women’s clitoris, vagina and cervix mapped on the sensory cortex: fMRI evidence – http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3186818/
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Nota.: Este tema foi inspirado na notável iniciativa do Instituto Brasileiro de Neurociências e Neurotecnologia – Brainn, em parceria com o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, por criar a Exposição de Neurociência, que apresentou temas sobre música, memória, sensibilidade e interação homem-computador, promovida no Hospital de Clínicas da Unicamp