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Um restaurante que mais parece um palácio, em uma…estação de trem!!
Como é que um restaurante tão suntuoso poderia estar em uma estação de trem?
Para entender, transporte-se para a Paris do final de 1800 até a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914. Este foi um período com forte expressão intelectual e artística, a era de ouro da beleza, inovação e paz entre os países europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: os cabarés, o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau. Foi uma época marcada por profundas transformações culturais que se traduziram em novos modos de pensar e viver o cotidiano.
Essa época incentivou também o desenvolvimento dos meios de transporte, que aproximou ainda mais as principais cidades do planeta. Em 1886 começou a operar o Le Train Bleu, um luxuoso trem expresso noturno (assim chamado por ter as alas dos vagões de dormir de cor azul), que ganhou fama internacional por ser o preferido de aristocratas europeus; alguns deles faziam a linha para a Riviera francesa para passar as férias.
Sendo assim, construir um restaurante grandioso numa estação de trem não era assim tão fora de propósito.
A arte que nos faz pensar
Ao olhar para esta famosa pintura de René Magritte, poderíamos simplesmente constatar que é um cachimbo e voltar nossa atenção para qualquer outra coisa que estávamos fazendo naquele momento, como no meu caso, ir em direção à outra obra do mesmo artista logo ao lado, no museu de arte de Bruxelas.
Mas a frase logo abaixo do cachimbo “Ceci n’est pas une pipe” (“este não é um cachimbo”), me fez fixar ainda mais na obra e refletir sobre o que ele quis dizer com isso.
Essa afirmação de Magritte significa que a pintura por ela mesma, não é um cachimbo. É apenas a imagem de um cachimbo. Ele mesmo reforçou isso em entrevistas sobre a obra: “Tente colocar tabaco aqui. Você não vai conseguir”. Ele fez outras obras assim e deu o nome à série de “La trahison des images” (A traição das imagens).
Isso me remete a duas questões:
1. A separação que Magritte faz em uma obra de arte entre a representação da linguagem (a imagem do cachimbo) e a linguagem por ela própria (a frase abaixo da imagem). Cada uma ativa regiões diferentes do cérebro do artista e do espectador.
2. A combinação linguística e visual em nossa era digital como relacionamento social. Por meio de fotos e textos em redes sociais, estamos substituindo relacionamentos fraternos, maternos, amorosos, profissionais, etc. Então constatamos algo assustador: estamos substituindo, por ex., o contato real do olho no olho, pela imagem de uma foto que aparentemente nos olha; o abraço e o beijo pelo texto Abraço e Beijo (sendo que a maioria já vem abreviado como abç e bj…), o sorriso, a tristeza, ou a raiva pelos emoticons, e assim por diante. O mais curioso é que isso muitas vezes causa um efeito emocional, como a satisfação pessoal de uma curtida ou a carinha de um sorriso sobre um post, ou o contrário, a indignação ou raiva por ver imagens ou textos reprováveis (os quais muitas vezes são falsos). Se ficarmos mais atentos para o fato de que uma imagem é só uma imagem, e um texto é só um texto, talvez possamos nos esforçar mais em promover encontros reais para verdadeiramente rir e chorar, amar e brigar, aprender e ensinar. Isso sim é a essência da vida social.
Por: Silvia Helena Cardoso