O significado de filho

003fNeste monumento, onde vivem pais solitários ou inválidos pela guerra, participei de uma homenagem aos pais. Me veio à mente: existe o dia dos pais, o dia das mães e os dia das crianças. Por que não existe o dia dos filhos? Filhos são crianças crescidas mais conscientes da importância de seus pais. Bons filhos conhecem e reconhecem o que seus pais fizeram por eles. Filhos excelentes devolvem em dobro o que seus pais fizeram por eles em determinado momento da vida adulta. Devolvem o amor, a gratidão, a bondade, o cuidado, e se possível, até as ofertas de sobrevivência e educação investida nos filhos. E no final da vida, os pais se tornam filhos de seus filhos, necessitando até mesmo que os peguem no colo e troquem suas fraldas. É nas atitudes dos filhos que se revelam as virtudes dos pais. Filhos excelentes se espelham não só nas virtudes dos pais, mas também as combina com as suas próprias. Já dizia Érico Veríssimo: “Só fazemos o layout dos filhos. Eles mesmos fazem a arte final”. Os filhos são os mensageiros futuros do layout dos pais. Filhos existem para carregar a memória de seus pais: a memória genética que preservará aqueles genes, permeada com virtudes, dignidade e esforço. É assim que o mundo evolui e preserva sua espécie.

Uma área estranha e tenebrosa nas universidades de séculos passados. Você sabia?

007c DSCN0122Você sabia que, de 1553 a 1836 existia prisão para estudantes dentro das universidades? Uma delas está preservada em Coimbra, Portugal, e é a única prisão medieval existente naquele país. No Brasil nunca teve, porque não há universidades medievais aqui.
Houve casos graves, como o assassinato de um professor por um grupo de estudantes e esses foram condenados à morte. Mas a maioria dos casos era por rebeldia, ou pequenos delitos e era esse o objetivo principal da prisão, ou seja, ter uma prisão de caráter disciplinar para proteger professores, estudantes e funcionários de criminosos em presídios comuns. Um célebre prisioneiro nessa universidade foi o poeta português Antero de Quental, líder estudantil, agitador político, socialista, com opiniões e idéias revolucionárias. Ele foi um dos envolvidos na Revolução Liberal em 1836, que extinguiu a jurisdição carcerária estudantil, então as prisões acadêmicas foram encerradas. Quental lutava pela intervenção e renovação da vida política e cultural portuguesa. Tinha uma personalidade complexa, que oscilava entre a euforia e a mais profunda depressão, acabando em suicido. Uma estrofe de seu famoso soneto “A divina Comédia” dá pistas dessa personalidade depressiva:
“Deus, por que é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N’um turbilhão cruel e delirante…”

Prisão estudantil. Posso até ser crucificada, mas acho que essa lei medieval seria uma boa medida nas escolas de hoje para disciplinar e coibir trotes violentos, bullying, agressão contra alunos e professores e tantos outros atos violentos que estão aumentando a cada dia em nossos colégios e universidades.

O significado de ponte.

001_c 011Das 37 pontes que cruzam o rio Sena, em Paris, esta, a Ponte Alexandre III é considerada a mais bela.
Neste dia, ao cruzar essa ponte no barco, ao som de um suave silêncio, eu pensava no significado real e simbólico da ponte.
Pontes são o contrário de muros. Pontes unem. Muros separam. Pontes levam a um outro lugar. Muros fixam-se em apenas um lugar. Pontes ampliam a comunicação e a visão do todo. Muros restringem-se a uma comunicação e visão limitada. Pontes fazem conexões. Conexões urbanas e interurbanas, estaduais e interestaduais. E fazem também conexões humanas. É por meio de conexões que seres humanos interagem-se entre si, conhecendo-se uns aos outros, conhecendo outras culturas, outros pensamentos, idéias e por meio disso até amadurecendo e modificando suas ações. Conexões virtuais também são pontes que aproximam ainda mais as pessoas e suas culturas. Hoje transformamos a Terra, o nosso o grande globo, em uma aldeia global por meio das conexões virtuais. Sem conexões, não há vida em sociedade. E nem vida neural. O cérebro só funciona por meio de conexões. Neurônios, pequenas células cerebrais que são limitadas como muros, precisam se conectar uns com os outros para a formar o todo de um pensamento ou uma idéia e dar significado a eles. A menor das menores interrupções dessas conexões neurais provocam severas alterações nos pensamentos, nas emoções e na cognição, gerando comportamentos alterados ou mesmo distúrbios ou doenças mentais e físicas.
Conexão é a base que impulsiona o mundo e homem. Nenhum homem é uma ilha. Ficar restrito entre muros – de casas, de escolas, de cidades e de continentes – dificultará muito a necessária compreensão do todo de todas as coisas ainda a serem descobertas e vividas.

A Ciência da Expressão Serena e Feliz

Uma expressão serena e feliz possui segredos que suavizam não só a face, mas também o ‘espírito”. Para conseguir isso, é preciso ter o controle dos pensamentos e das emoções.
Primeiramente, é necessário eliminar os pensamentos negativos e pensar em coisas agradáveis. Os bons pensamentos relaxam o corpo e a face, e colocam em funcionamento certos músculos, como os faciais, que atuam nas emoções positivas. Esses músculos podem se relaxar ou se contrair, se esticarem para baixo, para cima ou para os lados, gerando as diversas expressões emocionais tão conhecidas por nós (ver ilustração na área de comentários, o primeiro comentário).
Mais fascinante que conseguir uma boa expressão facial por esse controle dos pensamentos e das emoções, é o sentimento que essas atitudes provocam. Quando ocorrem certas mudanças corporais ou fisiológicas (como por ex. a emoção do sorriso), elas sinalizam o cérebro a produzir um sentimento específico para aquela emoção. Isso leva a um raciocínio oposto ao que pensamos até hoje, o de que o sentimento, por ex., de alegria, é que nos faz sorrir. Mas é o contrário! É o sorrir que nos faz sentir alegria. Esse conhecimento pode transformar o comportamento e atitudes do indivíduo, pois ele conclui que depende dele escolher qual sentimento que ter e quais emoções ele escolherá para interagir na sociedade. Alegria ou tristeza, amor ou ódio, saem de dentro para fora de nós. Mas é o sorrir ou o chorar, a serenidade ou a carranca, que entram em nós e determinam nosso estado mental.muscle face

Quer se lembrar dos seus sonhos?

Utilize essa técnica simples e criativa. Foi criada por Salvador Dali (veja o vídeo em https://youtu.be/ojFAJcD4jDA). Muitas vezes ele se inspirou em seus sonhos surreais para criar suas pinturas.
Durante o sono e sonhos, as memórias estão se reorganizando com as experiências do dia, e muitas vezes neurônios de uma rede de um aprendizado específico podem dar uma “escapadinha” e vão se conectar com neurônios de outras redes. Esses novos encontros nas baladas noturnas da mente podem formar novas conexões e consequentemente novos aprendizados e novas idéias.
Os sonhos já inspiraram não só os artistas, mas também cientistas, estudantes, crianças e qualquer outra pessoa normal. Paul MacCartney, por exemplo, sonhou com a letra da música Yesterday. Cientistas químicos, como Kekulé, sonhou com uma cobra mordendo o seu próprio rabo e conseguiu visualizar como era a conformação da molécula de benzeno (note aqui, que as vezes é preciso interpretar as imagens ou situações criadas nos sonhos).
Quem sabe você também não capture algum sonho seu e tenha alguma idéia – maluca ou não – para expor no mundo real rsrs

(Veja um método muito mais moderno para se lembrar dos sonhos em meu post mais atual. Em: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1026959053999984&set=a.578199145542646.144966.100000576964029&type=1&theater)

Um brinquedo prazeroso e educativo – também para marmanjos

Hoje se pode encontrar Lego nos grandes institutos educacionais, desde a pré-escola, para divertir as crianças e estimular a sua concentração e criatividade, até à universidade, onde linhas tecnológicas permitem aos estudantes aperfeiçoarem-se em design, robótica e mecatrônica. Os estudantes se sentem altamente engajados e motivados a aprender conceitos de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, enquanto constróem o equipamento e o faz funcionar. Isso permite usar não só as habilidades cognitivas, por ex., no caso de estudos teóricos, mas também a prática do fazer. Em fevereiro de 2015 foi considerado o brinquedo mais prazeroso do mundo. Na imagem, um robô em movimento montado com Lego, controlado por controle remoto, construído pelos meninos do colégio Albert Sabin de Ribeirão Preto, e apresentado no stand da Semana Nacional do Cérebro em Ribeirão Preto, evento coordenado pelo Prof. Norberto Garcia Cairasco da FMRP/USP.
Fica aqui essa dica para aqueles educadores que reclamam de falta de interesse dos alunos na escola.

Um Comportamento Misterioso e Intrigante

Alguma vez você já pensou por que você não consegue fazer cócegas em você mesmo?
É porque as cócegas é um comportamento única e exclusivamente social. Cócegas é um tipo de brincadeira de lutar, na qual quem faz é o suposto agressor (por exemplo, o monstro, o predador, o inimigo de guerra que quer pegar sua vítima) e quem as recebe é o mais frágil (por exemplo, a presa, o refém). Por isso é sempre acompanhada do riso: para deixar claro que aquilo é só uma brincadeira. A criança se contorce ou se defende com os braços para tentar escapar daquilo. Esse é um comportamento muito importante para o desenvolvimento da criança para ensiná-la a se defender de ataques ou outras agressões, ou ensinar situações da vida como ganhar ou perder.

E por que não sentimos nada fazendo cócegas em nós mesmos? Este é mais um fenômeno intrigante deste comportamento. Para as cócegas serem efetivas, o cérebro não pode saber exatamente de onde elas vêm. Charles Darwin já tinha percebido essa característica sobre o tickling (cócegas, em inglês) ao afirmar: “For tickling to be effective, you must not know the precise point of stimulation”.
Mas se uma outra pessoa fizer, o local será desconhecido ou impreciso, e isso ativam regiões e vias neurais que levam essa sensação tátil específica ao cérebro. O cerebelo, que é uma estrutura cerebral que ajuda a controlar os movimentos, percebe que aqueles dedos tocando a barriga e o pescoço não são do seu dono, então avisa imediatamente a parte do cérebro responsável pela sensação tátil (cortex somatosensorial) que aqueles movimentos são oriundos de uma brincadeira. Então o cérebro sente este toque específico, e relaxa, começando a preparar a “poção do riso”, composta por uma química que provoca uma agradável sensação no corpo e na mente.

Crianças com visão normal riem principalmente quando têm a sensação tátil das cócegas. Crianças cegas, que nunca sabem de onde vêm as cócegas e sequer se elas virão, riem o tempo todo aguardando-as, mesmo sem sentí-las rsrs. No vídeo, brinco com uma criança cega na qual parece que estou fazendo cócegas nela. Entretanto, em uma análise mais detalhada, o observador poderá perceber que eu sequer toco na criança, e mesmo assim ela ri muito. Isso mostra o poder das cócegas e da brincadeira.

Portanto, riso e brincadeira é coisa séria. E as cócegas, que fazem parte de um importante tipo de brincadeira, não podem ser negligenciadas na infância. Este é um comportamento genuino e instintivo que ajuda a fortalecer a personalidade da criança e forma um importante elo, não só entre crianças e adultos, mas também entre marmanjos, por exemplo, entre casais que se divertem com brincadeiras de dominar ou assustar. É riso garantido…

Além de uma Simples Boneca

Quando estive nos Estados Unidos, entrei em uma loja de brinquedos e uma coisa me chamou a atenção. Só vi bonecas brancas expostas na prateleira. Quando perguntei sobre bonecas negras, a vendedora disse que tinha, mas elas ficavam em uma área reservada da loja, mas qualquer um que tivesse interesse poderia entrar nessa sala. Quando entrei na “sala reservada”, notei que as bonecas negras eram mais baratas que as brancas. E notei ainda outro detalhe mais surpreendente: na caixa de uma das bonecas, havia um boneco-macaco que, nos dizeres da caixa, orientava colocar nele a mesma fraldinha do bebê humano e ambos também poderiam comer a mesma banana.
Isso me levou a uma constatação desoladora: desde muito cedo, nossas crianças aprendem a se segregarem por etnias e muitas vezes privilegiando a raça branca (em vários locais de cada país).
Um importante experimento realizado nos anos 40 comprovou isso. A pesquisa foi conduzida Kenneth Bancroft Clark psicólogo negro, professor, primeiro Presidente negro da Associação Psicológica Americana, ativista do movimento de direito civil, fundador de uma sociedade contra o racismo. A pesquisa contava com duas bonecas, uma de cor branca e outra negra. As bonecas eram colocadas em uma sala e crianças deveriam entrar, cada uma na sua vez, para responder algumas perguntas sobre cada boneca. As perguntas eram, por exemplo: qual boneca é mais bonita? qual boneca é má? qual boneca você escolheria? Os resultados mostraram que a maioria das crianças escolheu a boneca branca quando se tratava de coisas positivas.
Esta pesquisa alertou as autoridades e contribuiu para a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que determinou que a segregação racial na educação pública era inconstitucional (antes disso as escolas públicas eram separadas para brancos e negros). Esse experimento foi replicado recentemente dezenas de vezes em diversos países com diferentes etnias, inclusive com a raça negra, e os resultados foram os mesmos (coloque no youtube a palavra-chave racismo; boneca e você encontrará vários vídeos a respeito).
A criança precisa ser inoculada contra o racismo desde bebê. E isto começa com educação e exemplo dos adultos. Uma criança não nasce racista. Mas ela nasce com senso de justiça, e isso já foi comprovado por meio de experimentos. Se ela for ensinada que tom da pele nada significa em termos de confiança, caráter, aparência, etc, ela escolherá o humano que transmitir isso a ela, independentemente da cor.

Além de uma Simples Boneca

Quando estive nos Estados Unidos, entrei em uma loja de brinquedos e uma coisa me chamou a atenção. Só vi bonecas brancas expostas na prateleira. Quando perguntei sobre bonecas negras, a vendedora disse que tinha, mas elas ficavam em uma área reservada da loja, mas qualquer um que tivesse interesse poderia entrar nessa sala. Quando entrei na "sala reservada", notei que as bonecas negras eram mais baratas que as brancas. E notei ainda outro detalhe mais surpreendente: na caixa de uma das bonecas, havia um boneco-macaco que, nos dizeres da caixa, orientava colocar nele a mesma fraldinha do bebê humano e ambos também poderiam comer a mesma banana.
Isso me levou a uma constatação desoladora: desde muito cedo, nossas crianças aprendem a se segregarem por etnias e muitas vezes privilegiando a raça branca (em vários locais de cada país).
Um importante experimento realizado nos anos 40 comprovou isso. A pesquisa foi conduzida Kenneth Bancroft Clark psicólogo negro, professor, primeiro Presidente negro da Associação Psicológica Americana, ativista do movimento de direito civil,  fundador de uma sociedade contra o racismo. A pesquisa contava com duas bonecas, uma de cor branca e outra negra. As bonecas eram colocadas em uma sala e crianças deveriam entrar, cada uma na sua vez, para responder algumas perguntas sobre cada boneca. As perguntas eram, por exemplo: qual boneca é mais bonita? qual boneca é má? qual boneca você escolheria? Os resultados mostraram que a maioria das crianças escolheu a boneca branca quando se tratava de coisas positivas.
Esta pesquisa alertou as autoridades e contribuiu para a decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos, que determinou que a segregação racial na educação pública era inconstitucional (antes disso as escolas públicas eram separadas para brancos e negros). Esse experimento foi replicado recentemente dezenas de vezes em diversos países com diferentes etnias, inclusive com a raça negra, e os resultados foram os mesmos (coloque no youtube a palavra-chave racismo; boneca e você encontrará vários vídeos a respeito).
A criança precisa ser inoculada contra o racismo desde bebê. E isto começa com educação e exemplo dos adultos. Uma criança não nasce racista. Mas ela nasce com senso de justiça, e isso já foi comprovado por meio de experimentos. Se ela for ensinada que tom da pele nada significa em termos de confiança, caráter, aparência, etc, ela escolherá o humano que transmitir isso a ela, independentemente da cor. 

Por: Silvia Helena Cardoso

 

A mais Poderosa Arma do Ser Humano

temp317bParece que René Magritte estava errado ao achar que uma imagem é só uma imagem, ao escrever em sua famosa obra pintada em 1928, com os dizeres abaixo da figura de um cachimbo “Ceci n’est pas une pipe” (este não é um cachimbo). Magritte explicou que a imagem, por ela mesma, não é um cachimbo. É apenas a imagem de um cachimbo. Ele mesmo reforçou isso em entrevistas sobre a obra: “Tente colocar tabaco aqui. Você não vai conseguir”.
O que Magritte não considerou, é o que se lê na recente imagem do cartunista aí ao lado: “Esta não é uma arma. É uma ferramenta de expressão”.

Esta “ferramenta de expressão” que produz imagem e palavras, é o que transfere ao mundo aquilo que nos faz unicamente humanos: a linguagem. A linguagem falada, escrita ou desenhada é a mais poderosa expressão da emoção e da inteligência humana. É por meio dela que comunicamos aos outros os nossos pensamentos, sentimentos e experiências.

A transferência da linguagem de um indivíduo ativa no outro redes de símbolos daquilo que o outro experimentou em vida e armazenou em seu cérebro com um significado próprio. Simbolos neurais interpretados do ambiente que não significam nada para uns, são altamente significativos para outros, por ex. Deus, Infiel, Fantasma, Satanás, Barata.

O mundo externo molda o mundo interno do ser. E as representações neurais daquelas experiências ficam tão absolutamente e fortemente conectadas, coladas, que muito dificilmente se soltam e vão formar outras representações com novos significados.

Infelizmente, há mentes más ou doentias, que, ao longo de toda a humanidade, se autodeclararam líderes e usaram a representação da linguagem para implantar na mente do outro suas ideologias deturpadas, formando assim movimentos de massa ou mesmo culturas e civilizações que foram condicionados a pensar como o maluco. Foi o que aconteceu com Hitler ou Stalin, por exemplo. Stalin aplicou técnicas de linguagem para recondicionamento de soldados e até publicou isso em um paper em 1950. Ele demonstrou a significância da linguística para a doutrinação em massa. Por ex., a palavra “Traidor” era repetidamente acompanhada por fortes estímulos negativos. Isso passou a provocar automaticamente sentimentos e reações de ódio nos soldados. Opiniões prontas transferidas mecanicamente ao outro, sem dar oportunidade à oposição, alcançam as células nervosas e implantam um padrão fixo de pensamento no cérebro. Essa técnica é popularmente conhecida como lavagem cerebral – a desconstrução de significados das coisas representadas no cérebro e reconstrução daquelas mesmas coisas com significados diferentes por meio de condicionamento de recompensa ou punição.

A tragédia recente que o mundo assistiu indignado como consequência de publicações de charges desrespeitosas, humilhantes, intolerantes e também extremistas com a crença dos outros, nos alerta que devemos ter mais cuidado com as palavras e as imagens. Em muitas situações, deveríamos manifestar nossos sentimentos em um papel (ou uma tela) em branco que também pode representar muito: o silêncio e a paz.

Je ne suis pas Charlie

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Eu não sou Charlie. A liberdade de expressão tem seus limites, mesmo nas democracias mais modernas. Fale ou escreva o que acha de alguém que errou, e poderá ser processado por calúnia, difamação ou danos morais. Repreenda um funcionário por mau comportamento e poderá ser processado por assédio moral. Insista ou exagere nos galanteios a uma mulher e poderá ser processado por assédio sexual. Use deliberadamente o texto ou imagem de outro sem as devidas citações, e poderá ser processado por apropriação indébita de propriedade autoral. Demonstre preconceito por raças e orientação sexual e poderá ser processado por racismo e homofobia.

Era isso que a Justiça da França deveria ter feito desde as primeiras publicações: processar a editora pelas charges da revista Charlie Hebdo (por sinal, charges de péssimo gosto, sem graça e realmente ofensivas às religiões, não só à muçulmana). Na época, diversas associações islâmicas e mesmo católicas e judaicas se sentiram ofendidas e decidiram processar a revista. Os tribunais franceses, entretanto, fortemente arraigados ao próprio preceito da cultura francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, garantem a liberdade de expressão, o que incentiva ainda mais a expressão de todo e qualquer pensamento. E deram ganho de causa para a revista.

Atacar um indivíduo, ou pior, uma cultura alheia mesmo sendo com canetas ou palavras, é sempre um ato impositivo e agressivo. Isso piora muito quando a cultura é baseada na religião. Na crença islâmica, há um preceito central que diz que o Profeta Maomé não pode ser retratado, de forma alguma. Desrespeitar isso desrespeita todos os muçulmanos. A maioria dos muçulmanos recebeu essa ofensa em silêncio ou buscou a Justiça. Mas os terroristas muçulmanos, em cujos cérebros foram feitas uma lavagem cerebral condicionando-os ao ódio, à vingança e a todo tipo de sujeira mental contra aqueles que desrespeitam suas crenças e o seu modo de vida, não pensam como pessoas normais e pacíficas. Então fica a pergunta: Para que incitar o ódio e a vingança nesse tipo tão perigoso de pessoa? Será que os ateus “livres”, intolerantes, xenofóbicos acham que podem expressar toda a sua liberdade de pensamento ou mesmo tentar mudar o pensamento de uma outra cultura com textos ou desenhinhos ofensivos? Será que querem impor a sua liberdade de expressão oprimindo a liberdade daquele que não pensa como ele? Quanto engano!

É desnecessário dizer aqui o óbvio: “condeno o terrorismo, nada justifica o assassinato por qualquer ação, blá blá blá”. Mas a conquista da paz se inicia com o respeito e compreensão ao modo de ser e de pensar do outro.